quarta-feira, 22 de novembro de 2006

A casa do 2º ano


Por muitas voltas que a vida dê, existem locais que nos marcam mais significativamente do que outros e, assim sendo, o caso do celebríssimo apartamento do 2º ano é um perfeito retrato de tal afirmação.

Aquele antro foi um daqueles covís que para sempre irão ficar marcado nos nossos corações. Aliás, nós deixamos por nossa vez, inúmeras marcas físicas no imóvel assim como relevantes impactos psicológicos na vizinhança de forma a celebrar eternamente um laço de união entre os seres animados que o habitaram, e o objecto físico em questão.

Após um ano de violentes celebrações, tivemos de deixar aquele lugar com um aperto no coração e pernas a galgar, para não pagarmos aos donos os danos causados. Este post é um memorial ao testemunho material do que foi com toda a certeza o ano mais feliz das nossas vidas. Apenas breves referencias, uns flashbacks momentaneos que nos provocam arrepios na espinha e relembram cheiros e sabores que nos esforçamos por esquecer.

Resolvi, para facilitar a leitura aos nossos leitores, publicar este tributo em vários pequenos capítulos úteis para melhor separar o espesso tecido quase palpável de degredo, humor, cheiro, sujidade e álcool que flutua nas nossas recordações quando nos referimos a esta toca vampiresca.

Desta forma:

As decorações -

Quando entramos pela primeira vez no apartamento com os sacos as costas e a vontade de nos instalarmos rapidamente, deparamos-nos com uma decoração do imóvel muito à quem das nossas preferências. De facto o antro apresentava todas as características típicas de uma propriedade de lavradores do alto minho que, apesar da boa vontade e carácter trabalhador, de bom gosto não tem nada a não ser no que toca ao verde regional. Armários no meio da sala foram realojados devidamente contra a parede, mesinhas a mais foram expulsas pela janela logo no primeiro dia e , os quadros típicos de meninas a chorar e paisagens bucólicas, foram transformados em cinzeiros.

Os estragos -

Com o tempo todos os espaços de arrumação foram preenchidos com garrafas, as sanitas começaram a sair do sitio tais computadores portáteis, as portas das arrumações cederam assim como os estores começaram a ficar presos. Para alem disso, severos danos foram infligidos as paredes tectos, candeeiros, varandas, electrodomésticos, vidraças e ao mobiliário dos quartos. Enfim, mas vale dizer que tudo o que se encontrasse a determinado momento dentro daquelas paredes corria sérios riscos de sofrer danos consideráveis.

O Prédio -

A extensão da nossa loucura não ficou retida dentro de nossa casa. Acusaram-nos de denegrir a estética do prédio por pendurar nas varandas lençóis com mensagens obscenas e de guardar sucata nas mesmas o que sugeria que o prédio estava habitado por ciganos ou ladrões. Mais do que isso, usávamos todas as peças que se podiam separar do condomínio para nosso uso exclusivo. Maçaneta das portas, campainhas etc etc. Tudo era aproveitado para, por exemplo, arremessar para a rua ou decorar o pinheiro de natal.

A vizinhança -

Pode-se se dizer que ninguém tem nada como realmente adquirido. Mesmo morando num prédio semi desabitado, eventualmente, de um dia para o outro, a calma pode desaparecer. Diz-se e bem que há calmaria antes da tempestade.. Quantas vezes vieram nos bater a porta a meio da noite por termos a musica nas alturas sem nos ralarmos, quantas pessoas incomodamos com o constante vai vem de pessoas, portas a bater e sons indecifráveis. Até o bairro em redor sofria as consequências. Muitas vezes brincávamos ao arremesso mais longo. O objectivo era atirar o lixo o mais longe possível para alem da linha do comboio o que, compreensivelmente, causava um chiqueiro lamentável em toda a rua. Engraçado mesmo era trancar o Javali meio nu numa varanda e gritarmos com todas as forças pelas outras janelas para que as pessoas viessem ver o que se passava. Era mesmo muito bom ver as luzes dos prédios adjacentes se iluminarem a meio da noite para ver um exibicionista sem vergonha. Um hominídeo grotesco tal gárgula desnuda, incensivel à vergonha e aos fundamentos do respeito que se deve aos outros na vida em sociedade. No auge da nossa loucura, chegamos até a fazer fogueiras na varanda de dimensões consideráveis. Churrascos foram planeados e, certo dia, conseguimos queimar listas telefónicas, cadernos de Inglês, lixo e o pinheiro de Natal de uma única vez. Concordo porém que, desta vez, os vizinhos tiveram razões para se preocuparem.

As festas-

O apartamento do 2º ano era um palco idílico para a realização de festas estudantis sem vergonha. Vómitos imundos permaneceram para sempre agarrado aos azulejos da casa de banho, amendoins encontravam-se ainda meses depois, bebedeiras la apanhadas ficaram na historia e, situações vergonhosas de mais para aqui serem contadas, provaram que aquele local era o único capaz de gerar o ambiente perfeito para acontecimentos desta natureza. Na memoria ficam imagens de frigoríficos a rebentar de bebidas e os dias inteiros a limpar a habitação apos estas fenomenais sessões de convívio.

Resumo-

Para finalizar esta breve compilações de memorias relativas à casa do 2º ano, apenas aponto o que aconteceu e, o que foi mencionado sobre nós, aos locatários que la foram parar no ano seguinte. Foi nos dito que a proprietária, de tão furiosa connosco, tornou-se uma psicopata desconfiada. Disse ela que as reparações efectuadas foram superiores a 500 contos na moeda antiga (não era preciso exagerar.. A casa inteira não valia isso) e que a mobília quase toda teve de sofrer intervenções por parte de carpinteiros (isso sim, concordo). Para além disso, disse ainda que encontrou droga escondida na casa (como se de facto tivéssemos alguma vez tido estupefacientes, estes sobrariam.. Impossível..) e que nunca mais fazia alugueres ao negro nem deixaria de pedir uma caução avultada como medida de precaução (faz ela bem).

Bons tempos, saudades daquele reconfortante ninho..

domingo, 19 de novembro de 2006

Caça Furtiva

Era um dia como tantos outros. Faltamos ás aulas como sempre para fazer o mesmo que tínhamos feito noutras alturas e que fariamos por ventura durante tempos vindouros.

O dia de inactividade total que, pensem o que quiserem, é por si só bastante complexo e desgastante tanto mentalmente como.. mentalmente.. acabou como os outros. Ou seja no café do outro lado da rua.

Este ocupa um local estratégico. A esquina onde convergem 2 via principais do bairro dos estudantes. Alem do mais, com as suas amplas vidraças e esplanada airosa, este estabelecimento era o local ideal para actividades tais como as popularmente denominadas de: micanço, controle, engate, etc.

Tais características e a comunhão com o facto de vivermos na altura num apartamento mesmo em frente, tornaram o café-snack bar em questão na nossa sala de estar. De facto, considerávamos este comércio como um anexo nosso apenas separado por uma estrada de paralelos.

A noite ia normal, eu, psico, javali e ts devíamos ter arruinado com a esperança de uma comum garrafa de licor beirão em sobreviver a mais uma noite académica quando resolvemos ir para casa. Eu porque tinha uma liga de FM interessante, o Psico porque tinha aPS2 pronta a centrifugar no seu interior o dvd com as impressões PES, o javali porque, obviamente, era hora do monólogo diário com a sua cara-metade e, finalmente, o ts que tinha, como sempre, alguns exemplares pirateados de fitas, hoje digitais, hollywoodescas.

Este é o ponto da narrativa em que se começam de, facto, a escrever as peripécias e acções incomuns que justificam o próprio e incontrolável reflexo delas nos lembrar-mos. Tudo começou com uma suposta virtude a que demos o nome de meticulosidade. Ts, um rapaz atencioso para com as suas coisas pois estas lhe custaram a ganhar tinha a admirável paciência de todos os dias deslocar a sua viatura alguns metros ou ate centímetros por todo e qualquer motivo.

Ou era porque os bêbados que saiam do tasco passavam muito perto do espelho, porque conhecia a dona do carro que atrás do dele estava estacionado e, desconfiando com toda a razão das habilidades irrefutáveis para a demolição de automóveis das mulheres locais, sabia não ser capaz de descansar. Mas também por ter visto um cão a urinar ali perto e não querer ter de limpar as jantes, talvez porque o gato que afiava as unhas no BMW poderia sentir-se tentado a testar outras superfícies de marcas concorrentes. Também tinha em consideração as probabilidades aritméticas das gaivotas por ele tão estimadas acertar com seus dejectos corrosivos na pintura metalizada e, não poucas foram as ocasiões, supôs que o grau de inclinação do eixo terrestre naquele determinado mes do ano fosse provocar temperaturas e radiações capazes de estragar os plásticos interiores.

Assim, naquela calma e simples noite, quando três estudantes resolveram por em pratica hábitos invulgarmente gregários (note-se que se fossem vulgares não lhes chamaria gregários mas sim hábitos gregórios..) o ts convenceu-se por qualquer uma ou ate outra razão acima citada que o automóvel teria de ser movido para outro lado da mesma rua.

-Vou dar a volta ao carro e estacionar mais a frente! disse ele sem que nos preocupassemos por demais com tal costume usual.

O tempo fluía rapidamente. Como diz o povo, o bom sabe a pouco. Com um pouco de vícios digitais e confraternização inter quartos, muito rapidamente nos esquecemos do ts. A noite ja tinha aproveitado a nossa distracção para avançar.

-E pá! o ts?? Perguntou um de nós!
-Sei lá, deve ter ido ver as rolas..!
-Tanto tempo para dar a volta ao carro.. se calhar adormeceu lá dentro!* (*material para outra historia.)

Esperamos despreocupadamente. De facto, ate nos esquecemos da sua ausência. Dele só nos lembramos quando ouvimos uma chave a rodar o mecanismo da porta da entrada. Desde logo, e por falta de sons esquesitos, soube que algo estava errado. Passou silencioso e cabisbaixo e isso todos nos sentimos. Fomos ter com TS ao quarto e perguntamos que se passava com ele.

- Tou fudido! Disse com lágrimas prontas a jorrar dos olhos!
- Que fizeste pá??!!
- Fui dar a volta ao carro.. Respondeu querendo esconder algo!
- Sim mas.. porque estas assim?
- E que.. peguei no carro e .. resolvi ir dar uma volta...
- Esta bem. Isso ja nos sabemos. Dissemos impacientes..
- Fui andar pela cidade e, de súbito, quando dei por ela estava a caminho da serra.. A estrada estava escura, encontrava me sozinho naquela estrada sinuosa e não resisti. Acelerei pela encosta! As curvas sucediam-se, sentia o carro a vibrar, as suspensões no limite. A adrenalina subia em mim e cada segundo que passava aumentavam os limites da anbição..

- Ta bem!!! Foste dar gás para o monte a esta hora e completamente bêbado! Ja vi que capotaste! Desfizeste o carro! Que aconteceu perguntamos aflitos!

- Nada disso! Continuou.
- Lembro me apenas de estar a deslizar na perfeição por uma curva comprida para a minha esquerda... E foi aí..
- Foí aí o que?? Ripostamos furiosos!
- Foí aí que ouvi um estrondo e vi um olho gigantesco a esborrachar-se no para brisas.

Neste momento tivemos a certeza que o idiota tinha acabado de lançar a vida ás urtigas.

-Continua! O que fizeste! Mataste uma pessoa!!??
-Nada disso! Vocês estão malucos! Lançou levemente ofendido.
-Entã0 caralho!!?
-E pá.. quando senti o enbate entrei em pião e so parei uns valentes metros mais a frente! Avancei no escuro com o coração nas mãos e avistei o que eu tinha acabado de deitar ao chão!
-O que era??
- Um cavalo pá.. atropelei um cavalo.. Desfiz a frente toda do carro!

Neste momento, seria do alívio ou da cara que TS fazia naquele momento uma explosão de risos invadiu o quarto. Contracções de abdominais violentaram o nosso corpo e, secreções lacrimosas guardadas há anos eram expelidas em cascata. As excentricidades dos nossos corpos apenas contrastavam com a do TS que inconsolável afogava as mágoas entre as mãos culpadas.

Gostaria de dizer que no decorrer desta história nenhum animal foi aleijado mas, realmente, um belo equídeo selvagem que populam algumas serras Portuguesas foi de facto brutalmente atropelado e, provavelmente, deve ter ficado a apodrecer numa valeta empestando a atmosfera circundante.

Para finalizar, imaginem o TS a explicar ao seu pai em frente do carro amolgado que, o motivo daqueles estragos, tinham sido causados por um cavalo que não respeitou a velocidade mínima obrigatória. Obviamente, TS foi repreendido veemente por tentar enganar seu progenitor com tão patética desculpa.

-"Cavalos selvagens a solta na cidade! Onde é que já se viu isso" Atirou ele ao TS que cabisbaixo conformou-se com o destino!

Autir: GMDC

sexta-feira, 17 de novembro de 2006

Crime económico

As recentes notícias amplamente divulgadas nos media trouxeram-me á memória uma história caricata que demonstra o que o modesto povo é capaz de fazer durante tempos de vacas magras.

Não que no caso específico a vaca em causa fosse assim tão delgada, a falta de qualidade e quantidade de matéria-prima minimamente aceitável para uma obra satisfatória, teve de ser substituída na altura por um exemplar autóctone. Por isso quero dizer que, fazendo jus de nacionalismo evidente, a nossa característica do desenrasque (bem patente na seguinte narrativa) que é tão Portuguesa como o analfabetismo e corrupção seria francamente bem vista actualmente pelo nosso governo bem que, aplicada de forma sensivelmente diferente em áreas menos humilhantes.

Já foram tempos, eu sou do tempo, ainda me lembro de viver numa altura em que a noite académica justificava um investimento de 700 escudos por 8 bebidas brancas. Eu experiênciei o mito hoje em dia inacreditável de sair de casa sóbrio com 500$ (2.5€ para realçar o choque) e voltar completamente embriagado com o estômago cheio de álcool mas também de bifanas, cachorros e muitas outras coisas que são irrelevantes para o fio condutor da história.

Numa destas famosas e já longínquas noites da nossa inocência em que, muitos e muitas justificavam ainda este adjectivo ao sair de casa mas já apenas traziam uma vontade de preservar tal imagem no fim da mesma, encontrava me eu e o Laranjinha em fase de decadência à porta de saída de um estabelecimento de diversão nocturna em saldos.

Obviamente um cenário caótico reinava naquela rua. A noite pesada com nuvens baixas levava a bruma a serpentear pelas ruelas antigas dando às pessoas um ar mais misterioso do que o que estas mereciam. Enquanto decidíamos se devíamos ou não arriscar a sujeitarmo-nos aos caprichos de São Pedro, passaram em obvias dificuldades, 2 meninas pela estrada. Uma segurando-se à outra enquanto a 2ª não largava a 1ª. Só de forma inconsciente se alcança um equilíbrio entre duas pessoas que tem o cérebro envolto em álcool. Comparem se quiserem esta situação aos Cartoons do Coyote onde este mesmo correndo no vazio e deixando para trás a falésia só cai quando de facto percebe que não tem a rocha por baixo das patas. Ou então imaginem que a perturbação, mental destas duas raparigas corresponde a um transe sonâmbulístico e que, se esta adulteração da consciência dita normal se quebrasse, também o mesmo aconteceria com a harmonia entre as 2 bêbadas e com o equilibrismo do sonâmbulo num qualquer cabo telefónico suspenso sobre uma estrada movimentada.

Todo o parágrafo anterior poderia ser resumido numa simples linha de texto. No fundo, procurei exemplificar metaforicamente que existem certos movimentos e acções que, com a ajuda de substancias de má reputação, são realizadas automaticamente e de forma natural. Estranho realizar que tais actos que parecem na altura tão lógicos e inconsequentes possam ter um impacto tão grande no dia a seguir e, por ventura, em toda a vida futura.

Assim, avançando na história, porque muitos dos leitores tem de facto mais do que fazer, eu e o Laranjinha não duvidamos por um segundo que o que tínhamos a fazer quando nos deparamos com duas donzelas em dificuldades para se deslocar. Obviamente, acorremos a ampará-las ajudando-as a atingirem o objectivo de voltar a casa. Não preciso no entanto de referir que no interior das nossas cabeças, por um motivo ou pelo outro, levá-las para casa era de facto o nosso propósito primordial.

Estava eu a agarrar o par que me calhou para que este não se estatela-se nos paralelepípedos antigos quando me lembrei de lhe ver a cara. Queria ver qual era a pessoa que estava a ajudar, reconhecer no profundo de seus olhos a faísca do agradecimento pela minha prestabilidade. No fundo, queria entrar em contacto com um sentimento simples e genuíno como o é o agradecimento. Pode parecer estranho mas raras são as vezes em que nos deparamos com tal sensação.

Ergui-lhe a cabeça, afastei as suas longas madeixas negras que obstruíam a clareza leitosa da pele da sua cara. Ao faze-lo os meus dedos tocaram levemente na sua face. Uma impressão de seda e texturas refinadas despertaram os meus sentidos e, mais especialmente, a minha curiosidade. Finalmente tinha chegado a hora de a minha retina estudar as linhas faciais da sortuda donzela. Era o momento de perceber inatamente qual a sua reacção, intenções, medos e sentimentos. Coisa que no fundo so o olhar por si só pode perceber e, mais do que isso, ter a certeza por mais que as palavras digam o contrário. Como disse um conhecido meu de longa data, o Tonio do monte como lhe chamamos carinhosamente: "The eyes chico, they never lie..."


Por um instante, devido a ansiedade, o tempo parece que parou, as expectativas era, bastantes e um vulgar momento milhões de vezes repetido encantava uma alma numa noite tempestuosa de Inverno. Levantei-lhe então a face e abri os olhos. A minha reacção inicial foi querer fugir... De facto, os meus reflexos até ai ainda vivazes fizeram que ela se soltasse de mim perdendo todo o apoio que tinha permitido que ela se mantivesse de pé.

Uma cara magra de ossos salientes, uns esbranquiçados lábios finíssimos, para raios na dentadura e um corpo digno de pinóquio. Ai está meus amigos a melhor cura para a ressaca pois de imediato fiquei finíssimo como um cantâro de água fresca. Estatelada no chão incapaz de reagir, voltei a minha atenção para o Laranjinha. Vamos embora pensei em dizer-lhe. Porem, as minhas palavras ficaram amarradas a garganta perante o espectáculo horrífico que presenciei.

O Laranjinha, rapaz de sucesso no que ao sexo feminino toca, corpo ainda jovial, atleta bem preparado, uma bonança para qualquer mulher quanto mais para o Adamastor que ele agarrava. Em poucos segundos que, para os menos adeptos da leitura devem ter sido semelhantes a várias horas, o Laranjinha tinha a mão direita a percorrer as muitas curvas do animal e a esquerda a testar a firmeza da fruta frontal da mesma.

Descrevendo a ursa em questão (esta sim ursa maior), os seus traços característicos eram e ainda devem ser:

- A pele gordurosa
- O cabelo ralo
- O peso em excesso
- Os óculos fundo de garrafa.

Obviamente que depois de recuperar do trauma inicial tentei salvar das garras deste predador o meu amigo Laranjinha.


-Laranjinha, vamos embora esta a chover, Disse lhe eu.
-Vamos embora? Estas mas é maluco! Hoje é missão BCNL! Ripostou firmemente.

Não desisti a primeira como se espera de um amigo digno de tal!

-E pá, já viste a cara delas, estas maluco? Proferi sem discrição.
-Quero lá saber, Quando não há pão até as migalhas vão!!! Disse ele. De facto o ministro da economia seria com toda a certeza a unica pessoa no mundo orgulhosa deste cidadão.

Afastei-me transtornado enquanto ouvi meu compincha dizer ao entrar numa obscura galeria comercial que: "Vou aos saldos". Aí está mais uma óptima decisão económica que muitos lares nacionais deveriam seguir.

Divaguei pelas ruelas gastas e nuas, lembro me de pensar no outro mostrengo deitado numa valeta á chuva. Se a mãe dela a visse com certeza que teria espancado o preto ou o cigano que a tinha deixado naquele estado. Ao chegar a residência estudantil encontrei os colegas de curso cá fora na conversa. Com certeza esperavam que o sol levantasse para irem dormir. A culpa não era dele e, na verdade, nós é que chagamos cedo de mais e, seria falta de respeito não esperar por tão importante astro. Pelo menos devemos respeitar o único ser que nos atura e observa dia após dia. Nem Deus com certeza tem paciência para tanto disparate. Se assim não fosse, não seriam as coisas são mas seriam no tal como não o são presentemente.

GMDC, estas sozinho perguntou-me uma amiga?

-Estou. Cheguei agora do bar.
-E o Laranjinha? Perguntou ela sempre curiosa.
-E pá foi à vida.. Respondi

-Ai é? Mas eu vi vos agarrados aquelas 2 galderias. Insistiu.
-Pois, não sei. Esquivei.

A minha estratégia de mentira descarada ruiu quando o próprio Laranjinha apareceu por trás de mim.

-GMDC!! Tens preservativos!!? Disse ele sem dó nem piedade.
-Hmm.. é pá.. Aqui não..
-Fodasse! Espera aí! Lançou ao hominídeo primitivo que veio com ele.

Enquanto ele se mandava pelas escadas em pé de corrida prometi a mim mesmo nunca mais beber e pouco tempo depois fui dormir preocupando me já com a ressaca do dia seguinte.

Acordei sobressaltado. Um estrondo violento semelhante a uma bola de bowling durante um formoso Strike fez a porta abrir-se violentamente. De pele branca, tal qual fantasma de contos infantis, cabelo digno de um Cosmo Kramer ou Marge Simpson e olhos raiados de sangue entrou furiosamente o Laranjinha.

-Vai para o c*****o! Mandou ele.
-E pá que foi? Respondi assustado.
-Es um amigo e peras! Vê se que não posso contar contigo!

Cortando o resto do dialogo para não correr o risco de o Blog ser banido, resumirei agora a situação privando a todos que também posso ser conciso na minha narrativa.

A verdade é que Laranjinha estava sentido para com ele mesmo. Tentava justificar através de um bode expiatório os seus actos da noite anterior. Segundo o que ele me disse, mal chegou à caverna da besta copularam 2 vezes antes de adormecer. De manhã, com grande ressaca e enjoos derivados do processamento do álcool pelo pobre fígado, Laranjinha acordou confuso. Não sabia onde estava, não se lembrava de que tinha feito. Ficou deitado uns minutos tentando perceber que divisão estranha era aquela e a quem pertencia aquele corpo quente. Como no escuro as mãos vêem melhor que os olhos, tentou tactear a entidade que ao lado dele permanecia. Sentiu a pele gordurosa e ainda suada. Reconheceu as características típicas de uma pessoa volumosa e, de repente os seus sentidos despertaram da letargia em que se encontravam. O olfacto voltou de repente e seus pulmões foram invadidos por cheiros nauseabundos. Uma mistura horrenda de álcool, suor, células mortas e secreções púbicas violentaram o seu ainda débil organismo. Levantou-se então de rompante e correu apressado à procura da casa de banho onde vomitou todos os seus remorsos. Titubeando tentou encontrar o quarto de onde se tinha escapulido mas entreviu por uma nesga o quarto das colocatárias do aborto com que ele conviveu intimamente na noite anterior. Tentado se sentiu a entrar. Alargou a frincha, pôs um pé invadindo o proibitivo recinto, avançou mais um pouco e atirou se para cima da presa sem saber muito bem o que estava a fazer. Foi, como é lógico, recebido com gritos e estaladas felizmente para ele pouco precisas. Saiu então desta outra peça e entrou finalmente no quarto inicial. Depois de se deitar por uns instantes na cama sentiu o monstro gelatinoso agarrado e a ronronar-lhe ao ouvido: "vamos ficar deitados aqui a fazer amor todo o dia". Céptico Laranjinha levantou-se e entre abriu os Estores. Quanto conseguiu vislumbrar as feições da coisa em causa sentiu as pernas fraquejar e as lágrimas vieram lhe aos olhos. Tinha encontrado o fundo do poço. O local onde a estima própria nunca tinha entrado.

Voltou em seguida o Laranjinha vociferando pelas ruas num estado lastimável até entrar no quarto #101 que, mesmo não tendo grandes luxos, tinha sempre uma pessoa a quem deitar as culpas. O que este #to não tinha de facto eram assombrações e, isso, já não era mau.

Autor: GMDC

A Semana Cultural

Um certo compincha dos meus que dá pelo NickNome de javali ganhou um estranho habito durante as semanas culturais do IPVC. A primeira vez que o desastre aconteceu remonta ao ano do senhor 2001...

Depois de um jantar bem regado entre amigos, decidimos levar para a escola uma garrafa de CONHAC do bom que o Psico tinha surripiado lá em casa. Quando lá chegamos tivemos a triste oportunidade de constatar que a HINOPORTUNA estava a actuar o que deu tempo ao Javali de emborcar metade da garrafa de licor Francês enganado pela insignia SUPERBOCK que revestia o tão precioso líquido. A expressão dele depois das duas gigantescas goladas que deu foi no mínimo hilariante. O ardor inesperado que lhe escoria pela garganta como a lava de um vulcão fez os seus olhos sair das orbitas e a sua pele mudar a pigmentação natural.

Sentou-se. Não disse nada. Nós riamos tentando segurar as lágrimas até ao momento em que ele se levantou no meio anfiteatro e proclamou numa voz forte e bem audível mesmo estando os tristes a tocar com frenesim: "Ó URSOOO VAI PRO CARALHO... Laranjinha... PARABENS.... PAARRAABENNNSS AA VOOOCÊEE..... NEESSTTAAA DAATAA..."

O Urso (nicknome) é lá o chefe dos corvos tocadores e um indivíduo respeitado por meia dúzia de pessoas enquanto o Laranjinha é um dos nossos agentes infiltrados que teve a coragem de se misturar ao mais pegajoso lodo universitário de Viana. Quando as centenas de cabeças curiosas e/ou escandalizadas se viraram para o Javali nós fizemos o que todos os bons amigos fazem... Fugimos a 7 pés deixando o entregue a ele mesmo...

Alguns minutos depois e sabendo que o ultimo tinha sido convidado a sair do anfiteatro começamos a ficar preocupados. Onde se teria metido o nosso animal de estimação... A busca despreocupada só acabou quando aproveitei para ir mijar...entrei na casa de banho e um cheiro putrefacto emanava de uma das sanitas... O gajo que estava a mudar a agua as suas azeitonas a meu lado olhou para mim e disse.. fdx.. Vou bazar ou vomito já... Acabei de urinar sozinho e com a manga da minha camisola a tapar o nariz impedindo que o horrível cheiro entrasse nos meu lá frágil organismo... de repente ouvi um soluçar familiar... Javali és tu?.. diz kk coisa!!
-Souuu,,, :-s
-Fodasse abre a porta - respondi..
-Não...
-Anda lá - insisti com ele..
-Eu saio..

Abriu a porta... o cenário era lamentável.. Sobretudo se pensarmos que estávamos na casa de banho da escola as tantas da manha numa semana que de CULTURAL não tem nada.... Vómito em todo o lado.. a roupa dele toda molhada e, escusado será dizer, IMUNDA! OO cheiro intensificou-se e tive de sair da casa de banho para não correr o risco de acabar como ele..

Os leitores podem pensar neste momento que é mais uma historia como tantas outras de um bêbado que vai vomitar mas, na verdade, a piada desta narrativa so agora vai ser revelada...

O Javali saiu da porta em lágrimas e eu perguntei..
-estas bem?
-Não, armei a puta - disse ele..
-Então porque??
- Acabei com a minha namorada..
-Fodasse, enfiaste-te na casa de banho a chorar por ela??!! Que homem és tu?
-Não percebes-te - tentando se justificar..
- .. Eu..eu.. eu fui expulso no auditório e vim dar uma cagadela..
- E? o que tem isso a ver com a tua namorada ? - Repliquei confuso..
- ó pá... estava a cagar e ela ligou-me.. Obviamente atendi e começei a falar.. só que.. durante a conversa aquela merda que me deram a beber começou a fazer efeito e juntando isso ao cheiro da cagadela veio-me vómito a boca e não aguentei.. deixei cair o telefone e vomitei-me enquanto cagava.. o pior é que... a minha EX ouviu tudo e acabou logo comigo...

LOL...LOOOOLLL.LLLLOOOOOOOOOOOOOLLLLLLLLLLLLL

Sendo por si só uma história caricata que chegue, tenho de referir que no ano seguinte o Javali voltou a vomitar na mesma casa de banho por causa do cheiro das suas próprias fezes e, em 2003 tb virou o barco no mesmo dia mas por razões menos estranhas ...

Podem pensar o que quiserem mas a vida de estudante é feita de coincidências estranhas... quase assustadoras.. Historias que se repetem vezes sem conta...são... MITOS UNIVERSITÁRIOS...

E esta hein?!!


Autor: GMDC

Os Personagens

Em todos os romances, contos infantis ou prosas épicas as personagens principais são o ponto fulcral da narrativa. As suas características são evidenciadas, os pormenores mais insignificantes nunca passam despercebidos e ao longo de toda a história se aprende sobre o perfil do homem, animal, coisa ou mulher (passe o pleonasmo).

Assim sendo, o relato que aqui vai ser construído tendo em conta a nossa capacidade cefálica de recordar acontecimentos muitas vezes obstruídos por uma névoa de álcool e, por ventura vergonha, terá forçosamente de dispensar algum espaço para a caracterização dos seus principais actores.

Em seguida será apresentada uma breve "definição" do carácter e comportamento típico dos artistas em causa. De ter em conta que todas as situações citadas entre linhas são verídicas e que quaisquer coincidências com a realidade não são de forma alguma acaso do destino. De referir ainda que a ordem pela qual serão citados os protagonistas não tem base em qualquer escala classificativa.

1º: Laranjinha:

Este personagem caracteriza-se por expressar as suas intenções consoante a roupa que leva vestida. Muito conhecido pelas mais variadas classes femininas, nunca deixa os seus créditos em mãos alheias de tal forma que se tornou um mito por entre a comunidade estudantil do sexo fraco. De referir o carácter calmo, meticuloso e atencioso que obviamente explodiu mais que uma vez em sessões de pancadaria. São suas marcas pessoais as propensões para não saber onde está nem para onde vai assim como não perceber por vezes piadas básicas mas discernir situações invulgares em discursos ou textos confusos que ninguém se dá ao trabalho de tentar sequer estudar.

2º: Psico:

Este individuo marca pela sua persistência. Capaz de maratonas PS2 que estão para lá do ser humano comum, também se caracteriza por se fartar ainda mais rapidamente de algumas aulas (ex: 3ºano). Apreciador de bom vinho é igualmente importador de conhaques Franceses para grande azar de alguns. Finalmente uma faceta mais perigosa reflecte-se nos automóveis de estado duvidoso que por vezes conduz em lugares em que tal não seria recomendável.


3ª:TS:

Quanto ao que toca ao TS, não faltam evidencias que o caracterizam. Tanto se esforça por parecer uma pessoa respeitável como degrada a sua imagem com relações sociais pouco recomendáveis em lugares sombrios. Tão rápido austenta uma imagem de austeridade como é visto a expelir líquidos regurgitando frequentemente e, previsivelmente, álcool rapidamente ingerido. Para alem disso, tem uma faceta de piloto de corrida que não poucas vezes lhe trousse problemas e, finalmente, tem grande paixão pela caça grossa ilegal a meio da noite.

nº4: Javali:

O animal de estimação do grupo. A sua fisionomia distinta dá-lhe logo à partida um estatuto de notoriedade Ele é o relações públicas do grupo. Conhece toda a gente e nem toda a gente sonha que ele existe. Proveniente das redondezas de uma cidade dormitório, aproveitava todos os momentos para por a conversa em dia e para frequentar estabelecimentos nocturnos de má qualidade. Não menos importante são os seus monólogos diários ao telemóvel que nos assombraram a existência durante vários anos e a sua vertente mitómaniaca que lhe retirou bastante credibilidade mas o enriqueceu em originalidade.

nº5: Baco:

Um dos mais marcantes exemplos de que a vida dá grandes voltas. Quem o viu e quem o vê não pode crer nos seus olhos e, por certo, terá mais uma razão para por en causa a existência ou não de uma entidade superior que manipula todos os seres vivos. O seu nome real reflecte o seu modo de vida. Os lugares onde viveu ficaram para sempre assombrados por fantasmas femininos que ainda não sabem bem o que foi que lhes aconteceu. Tem uma seria tara por Telettubies roxos.

nº6: Xibato:

Elemento que teve uma passagem mais curta (mas não menos marcante e preenchida) que os outros pela vida académica. Inicialmente muito reservado transforma-se em super estudante mal tenha a oportunidade e, aí, elas que se cuidem. O seu nicknome foi lhe atribuído por um individuo completamente maluco que tentava fornicar as fotografias da sua namorada estivesse ele ou não presente. Foi também um dos sobreviventes do quartonº101 da residência durante o 1º ano.

nº7: GMDC:

A única pessoa mentalmente equilibrada deste grupo.
____________________________________________________________________

Existem obviamente muitos outros Artistas que poderiam estar inseridos aqui. Porém, sendo alguns do sexo feminino e, face a obrigatoriedade de reduzir ao núcleo básico os elementos interventivos da narrativa, fiquemos por aqui quando a KEY-PLAYERS.

Autor: Gmdc

segunda-feira, 13 de novembro de 2006

Prefacio

Cremos não ser impertinente reconhecer que, onde quer que estejamos, existe um carente esforço de actualização do nosso passado intra e extra estudantil, buscando, contudo, corresponder às necessidades do nosso presente diminuto e de timbre saudosista.
Depois de anos e anos a aperfeiçoar a técnica “copypaste”, a escrever poemas de amor para a Alexandra Correia e especializados em todas a noites apontar o nome da rua para poder dormir em casa, decididamente, QUEREMOS MAIS(!)... QUEREMOS DEIXAR UMA MARCA (!)... mais que não seja na história universal da língua portuguesa, contribuindo para aumentar o léxico contemporâneo da nossa língua - e permitam-me os nomes impróprios de bons exemplos: Javali, GMDC, Psico, Baco,Laranjinha, TS e Chibato!

À partida seria mais fácil, combinar umas jantaradas, tainadas, road trips, viagens, cruzeiros, bacanais, contrair um empréstimo para voltar a estudar, ou mesmo abrir uma empresa em turismo, do que espezinhar para aqui as nossas memórias e sabedorias, porque na realidade somos indivíduos que, definitivamente, não dominam a expressam escrita! Dominamos outras correntes de expressão, para uns não muito artísticos mas para a grande maioria dos estudantes ensino superior são, sem dúvida alguma, potencialmente expressões de ARTISTAS!·

Esta obra nasce da vontade de todos, do que foi lembrado por nós, a nossa família, as nossas senhorias, as nossas amantes, namoradas, homens do lixos, porteiros, pessoal da esquadra, pessoal do turno da noite das estações de serviço, efectivamente, uma obra expansiva e acarinhada!

Sem se pretender fazer um apontamento exaustivo de características técnicas deste legado monográfico, é no entanto conveniente referir que a política de escrita é o uso de ILIMITADA CRIATIVIDADE ou, para quem preferir, RELATO EXAGERADO DOS FACTOS! Assim, para além do empenho e dedicação a que nos obriga, é inevitável que alguns testemunhos venham conter dificuldades para os leitores não ambientalizados com tais matérias! Por seu turno teremos, futuramente, disponível uma linha de apoio gratuita para os menos esclarecido e até umas dose de ansiólitos para os mais assustados!·
A fechar este prefácio impõem-se alguns dados biográficos sobre os autores, em torno dos quais se teceu e urdiu este apaixonante e peculiar monografia, testemunho de uma genuína e errante vida académica em plena cidade de Viana do Castelo.

Laranjinha