quarta-feira, 7 de novembro de 2007

The Special One!

Uma coisa de que nos damos conta quando se entra na faculdade é que há pessoas capazes do maior ridículo para se sentirem partes de uma unidade social que lhes possa valorizar a existência .

A nossa experiência social, que até aí é maior ou menor consoante o individuo em causa será sempre posta em causa e submetida a uma evolução forçada. Quer presenciemos estranhos hábitos alimentares, estilos de barba intermináveis, gostos musicais incompreensíveis, distúrbios emocionais, tiques nervosos assombrosos ou até cheiros inexplicáveis, existe sempre alguém capaz de nos relembrar que a biodiversidade de carácter de uma faculdade é incalculável. De facto, não raras as vezes chegamos a pensar que somos os únicos humanos normais por entre esta amalgama de aberrações da criação.

Sempre fomos um grupo receptivo a quaisquer diferença comportamental. De facto, isto era quase requisito para poderem despertar o nosso interesse. Porém, nada nos podia ter preparado para lidar com uma pessoa como o por nós intitulado (devido a aparências físicas, hábitos de higiene e forma de agir e pensar) " MAMUTE".

O encontro com tão marcante personagem deu-se da forma mais inesperada e caricata possível. Saindo de casa (a do 3º ano) para irmos jantar e apaziguar os revoltos ácidos estomacais que, bravos, lutavam contra a forte dose de álcool ingerida no rali das tascas desta mesma tarde, tropeçamos num carro da policia municipal estacionado em frente a nossa porta. Olhamos uns para os outros já a pensar em qual o de entre nós teria enveredado, mais uma vez, na ilegalidade.

Porém, imediatamente, demos conta que o furioso e faiscante olhar do Sr.Agente estava focado exclusivamente para a massa inerte que jazia no banco de trás da viatura estatal. Bem mais curiosos do que preocupados, abordamos a autoridade perguntando-lhe se lhe podíamos ser de alguma utilidade.

- Sr.Agente. O que se passa?
- O QUE SE PASSA? disse ele gritando de fúria..
- O que se passa é que vocês jovens são todos uns BÊBADOS!! Olhem para isso! Encontrei este cadáver estendido na rua e fui por isso incumbido de encontrar a sua residência e de o deixar em segurança!!

Acreditem ou não, veio logo acima o nosso filantropo viver académico e propusemos-nos a ajudar na medida do possível.

- Sô guarda, deixe estar. Nos tomamos conta da ocorrência. Deixe ver quem é este cidadão de 2ª categoria que nem consegue acabar um rali sem desmaiar, inerte, na praça publica!

Abrimos a porta de trás e tapamos os orifícios nasais e bucais de forma preventiva.. Viramos o corpo adormecido sobre si mesmo e conseguimos ler na sua já vergonhosamente vomitada camisola as palavras que nos encheram de orgulho:

CALOIRO TURISMO 2002-2003

De lágrimas nos olhos, emocionados por ter encontrado alguém no meio de tanta carne de caloiro inútil que tivesse o potencial para ser um artista de nova geração, carregamos o cujo pela estreita e inclinada escada.

A frente, a velhota de ar sôfrego e de pesar sem duvida ignoto, insultava o ébrio estudante e, ao mesmo tempo, agradecia calorosamente como uma ternura que só uma avó grata por um mero acto de atenção por parte de jovens dedicados. Por trás, o policia coordenava as operações com a metodologia que lhe foi incutida durante as duríssimas horas de treino a que foi sujeito. Por outras palavras só dizia e fazia disparates e acabava por dificultar o transporte de uma massa considerável através de um espaço limitado e sombrio.

A nossa boa vontade foi tal que nem sequer roubamos nada da casa da anciã e até devolvemos a carteira do animal pré-histórico que acabávamos de arrastar até ao se palheiro. Mal se deitou, naquele pequeno quarto de odores secos e agressivos, regurgitou imediatamente os líquidos ingeridos e que o tinham posto em tal estado. Quando os gritos da idosa se tornaram insuportáveis e seus insultos inconcebíveis, resolvemos sair dali. Notou-se o ar de satisfação do guarda que devia com certeza estar satisfeito por ter um frete a menos a resolver antes da sua sessão de masturbação colectiva nos balneários da psp de V.do Castelo.

A impressão que ficamos do Mamute foi a de que estava ali um diamante a lapidar. O potencial estava lá. Só precisávamos de dedicação para o fazer florescer..

No entanto, apesar do nosso acompanhamento, a sua evolução percorreu os mais trágicos caminhos. Não sabemos se terá sido do excesso de gordura ingerida nos manjares do Brasil ou do teor de acidez dos vinhos verdes, o Mamute tornou-se um mentiroso compulsivo e revelou uma ingenuidade que nem os anjinhos mais lerdos das terras e dos céus se podiam gabar.

O dia em que deixamos finalmente de acreditar nele veio no inverno. Abrigados da chuva pela laje antiga e gasta que cobria a entrada da casa da védoria, falávamos casualmente com o nosso discípulo. Em determinado momento, quando comentávamos acerca de quais as melhores e maiores festas populares do minho, Mamute disse tragicamente:

- Eu também fui às feiras novas. Eu e não sei quantos colegas metemos-nos no comboio já todos bêbados e só paramos em Ponte de Lima!!

Não nos rimos. Aliás, a hora era de consternação pelo tempo e esperanças perdidas. tínhamos depositado confianças nele... Matou a vida as ilusões que não voltaríamos a viver (A.M).. Ir de comboio até ponte de lima.. Só se fosse de gatas ao empurrão aos seus amigos.. Nem sequer existem linhas férreas em P-Lima..

Esta vergonhosa mentirasita aparentemente inofensiva tornou-se mito urbano em Viana do Castelo. Deu ainda para Mamute ser integrado como um animal de circo pelos mais desejados núcleos mas, o seu quarto de hora acabou no momento em que o viram a lamber as axilas repletas de chantilly do seu grande amigo TESTA LARGA de Guimarães...


Tivemos pena.. O Mamute era especial.. quase que foi o Special One de toda a nossa vivência académica. Porém, como o verdadeiro JM-SO, começou pela glória absoluta e, quando isso acontece, o unico caminho que existe é para baixo.. até ao fundo da escada da vida...